"Ó pá, os arcos são nossos", diz arquitecto brasileiro
"É uma bobagem falar que um tenha copiado o outro, é uma ideia que pode ocorrer a qualquer um", disse à Lusa o arquitecto Carlos Henrique Ribeiro Porto, um dos quatro responsáveis pelo projecto do chamado "Engenhão", inaugurado em 2007 para os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro.
Embora o Estádio da Luz tenha sido inaugurado em 2003 antes do Engenhão, o projecto inicial do estádio olímpico brasileiro data de 1995, explica Ribeiro Porto, e foi projectado para ser um estádio da cidade do Rio e "já tinha os quatro arcos e uma arquibancada suspensa para 50 mil pessoas".
E mais tarde, quando o Rio se candidatou às Olimpíadas de 2004, no Engenhão foi incluída uma pista de atletismo. Com o fracasso da candidatura o projecto ficou engavetado. Esta segunda versão é anterior ao ano 2000.
Para o Pan em 2007, foi feito um estudo de público para comportar entre 45 a 60 mil espectadores e a obra teve início em 2003.
A sua cobertura metálica é suspensa e atirantada em um conjunto de quatro arcos tubulares de aço com dois metros. São quatro arcos que vencem dois vãos de 183 metros e outros dois laterais de 220 metros e o ponto mais alto alcança os 70 metros.
Os arcos chamam a atenção, admite Ribeiro Porto: "Por que não perguntar a HOK (HOK Sport Venue Event, hoje Populous, uma das maiores empresas de arquitectura do mundo) que fez o projecto do estádio português?", questiona.
"O mundo hoje é visual, é difícil para um arquitecto e um artista dizer que não houve influências, evidentemente tem". Para ele, a sua referência foi Oscar Niemeyer. "Ele fez parte do meu imaginário como estudante e também como profissional".
Ribeiro Porto referiu um projecto antigo feito por Niemeyer para a construção de um estádio nacional no Rio, durante um concurso de 1941, que futuramente originou o Maracanã. Naquela época, Niemeyer já havia proposto um projecto "com um grande arco de concreto com uma cobertura pendurada".
"Ele foi claramente uma referência que percebi depois. Foi um achado sustentar a cobertura por cima. Em 1934, o franco-suíço Le Corbusier fez um projecto para o que seria o parlamento de Moscovo, um grande arco segurando uma cobertura. O Santiago Calatrava também fez o estádio de Atenas com uma cobertura pendurada. Se existe alguma referência são essas", declarou.
Carlos Porto que esteve a visitar o Estádio da Luz achou interessante o projecto. "A solução deles é muito curiosa, a cobertura não é contínua, é dividida em quatro pontas que se encontram nos cantos com algo translúcido, não é uma cobertura completa", refere.
Inicialmente orçado em 60 milhões de reais (23,5 milhões de euros), o estádio João Havelange teve um custo final mais de seis vezes do esperado, 380 milhões de reais (148,7 milhões de euros). Trabalharam na sua construção cerca de quatro mil homens.
Com uma arquitectura arrojada, o Engenhão foi executado em peças pré-moldadas. O estádio possui uma área de competição (campo de futebol mais as duas pistas de atletismo) de 21 mil metros quadrados e 98 camarotes. O campo mede 105 metros por 68 metros podendo ser utilizado tanto para partidas de futebol.
Para o projecto de execução dos arcos nesta obra de grande envergadura, um engenheiro português da TAL Projecto especialista em cálculos de aço foi contratado.
"Era preciso contratar um especialista para dar um acompanhamento técnico e usar estratégias. Alçar as peças que têm problemas de dilatação é engenharia pura e de muita complexidade".
Para toda a obra, foi utilizado um volume de 39 000 metros cúbicos de concreto, 2700 toneladas de aço para construção e 35 000 metros quadrados de estrutura metálica para a cobertura. A construtora responsável foi o Consorcio Odebrecht e OAS.
Pela proximidade dos Mundiais de Futebol em 2014 e Olimpíadas em 2016, a partir do ano que vem o João Havelange será denominado "Stadium Rio".
Construído em um terreno de quase 200 mil metros quadrados com tecnologia brasileira, o estádio atende aos padrões as exigências da FIFA (Federação Internacional de Futebol) e da IAAF (Federação Internacional de Atletismo) e está pronto para acolher as Olimpíadas no Rio.
"O Engenhão está pronto só precisa completar o projecto original de colocar mais 15 mil lugares para completar o total de 60 mil", assegura o arquitecto.